quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Especial: Centenário do Eléctrico de Coimbra

Era um vez.... O Eléctrico de Coimbra...
A 1 de Janeiro de 1911 era inaugurada a viação eléctrica e considerado “…o mais notável acontecimento da vida Coimbrã…”. A viação eléctrica compreendia três linhas: uma da Estação Velha à Alegria, outra da Estação Nova à cidade alta (Universidade) e a terceira da Estação Nova até aos Olivais. A frota era constituída por cinco carros eléctricos tendo sido, em Agosto do mesmo ano, autorizada a aquisição de mais dois carros o que prova que a cidade se encontrava em pleno desenvolvimento e os carros existentes já não satisfazem a população que se difundia por novos espaços e que adquiriu já hábito de se deslocar de eléctrico no seu dia a dia.
O prolongamento da via eléctrica da Alegria até ao Calhabé foi inaugurado em Maio de 1913. Os anos 20 foram um período importante da vida dos eléctricos:
Em 22 de Abril de 1920 a Câmara Municipal deliberou sobre a autonomia dos Serviços Municipalizados, tendo sido para o efeito criada uma Comissão Administrativa destinada à sua gestão.
Em 1925 foram adquiridos um carro eléctrico e uma zorra para transporte do carvão utilizado na central eléctrica.
Em 1928 foi instalada a linha dupla desde o Arco de Almedina até aos Arcos do Jardim e abertura da linha da Estação Nova até ao Matadouro (linha de Montes Claros), a qual foi prolongada até à Cruz de Celas. Nesta altura a frota dos SMC era já constituída por 15 carros eléctricos e 2 carros para atrelar a uma zorra.
Em 1929 foi aberta a linha dos Arcos do Jardim ao Calhabé, circuito que viria a ser chamado Calhabé-Circulação, e da linha da Cumeada aos Olivais, que se chamou Cumeada-Circulação.
Em 1930 foram adquiridos mais três eléctricos, os únicos de fabrico europeu.
Em 1932 prolongou-se a linha dos Olivais até à igreja dos Olivais, construiu-se a linha da Rua Abílio Roque e foi feito o prolongamento da via dupla até à Universidade.
Em 1934 foi construída a linha de S. João para permitir a circulação pela Universidade e, ainda neste ano, com chassis e motores importados, é construído nas oficinas dos Serviços Municipalizados o eléctrico nº 19. Nesta época o carro eléctrico está definitivamente instalado em Coimbra servindo as zonas mais populosas da cidade.
No ano de 1938 começou a vislumbrar-se já o fim dos carros eléctricos quando são adquiridas três viaturas automóveis que iniciam os seus serviços em 1940 com a carreira Coimbra – Taveiro. De salientar que nesta altura os Serviços Municipalizados tinham já uma elevada capacidade técnica o que permitiu que se construísse, ainda, o carro eléctrico nº 20 e que seria o último. Estávamos a entrar na Era dos Autocarros que em conjunto com os troleicarros, inaugurados pela 1ª vez no país em 1947, são as alternativas para o futuro dos transportes em Coimbra. Assim, em Dezembro de 1947, a Câmara anuncia a “extinção gradual da via rígida (carros eléctricos) e a sua substituição por troleicarros, na zona urbana, e autocarros na zona rural”. Embora a implantação dos troleicarros fosse crescendo nas ruas da cidade, ela não anulou totalmente a actividade dos eléctricos, pois em 1954 vai ainda prolongar-se a linha dos Olivais ao Tovim de baixo e desde a Rua da Sofia pela Rua Dr. Manuel Rodrigues, Avenida Fernão de Magalhães e Estação Nova, a terminar na Portagem.
Em 1958 é aprovada a colocação da via dupla de carris para os eléctricos nas Ruas Lourenço de Almeida Azevedo e Augusto Rocha e em 1959 é estabelecida a ligação dos Arcos do Jardim pela a Rua de Sta. Teresa, com ligação à Avenida Dias da Silva. Foi nesta altura que a rede de carros eléctricos alcançou a sua extensão máxima no acesso às várias zonas da cidade.
Ainda no mesmo ano o Presidente do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados de Coimbra (SMC) reconhecia as vantagens do transporte em troleicarros, mas não deixa de considerar “o interesse económico da manutenção dos carros eléctricos enquanto eles se mostrarem capazes de dar satisfação ao interesse colectivo dos transportes urbanos da cidade”. Embora durante a década de 50 algumas linhas tivessem sido substituídas pelos troleicarros, é nos anos 60, já com uma frota composta por 20 carros eléctricos, 27 troleicarros e 31 autocarros, que o “velho” eléctrico vai dar mostras de grande decadência. No início dos anos 70 o Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados reforça a ideia de retirar o eléctrico das ruas da cidade. Este meio de transporte, que durante 69 anos proporcionou aos cidadãos de Coimbra uma deslocação mais rápida e económica, estava agora, mais do que nunca, a caminhar para o fim. Na década de 70 apenas serviam os cidadãos de Coimbra três linhas de carros eléctricos: a linha 3 dos Olivais, sendo que o percurso inverso era agora efectuado por troleicarro pela linha 8, a linha 4 (Montes Claros – Cruz de Celas) e a linha 7 (Tovim). Em finais de 70, concretamente em 1977, já só existem as linhas que ligam a Portagem a Sto. António dos Olivais (linha 3) e a linha que ia da Portagem à Cruz de Celas (linha 4). Em 1979 estas duas linhas deixam de fazer o circuito pela baixa.
Na madrugada do dia 9 de Janeiro de 1980, perto da uma da manhã, os eléctricos recolhem, pela última vez, ás instalações situadas na Rua da Alegria. Foi o fim de 69 anos de serviço prestado à cidade de Coimbra pelos “velhos” carros eléctricos.

Sem comentários:

Enviar um comentário