domingo, 16 de maio de 2010

Eléctricos tiraram o pó na marginal

Desfile anual dos carros históricos da STCP no dia em que se cumpriram 138 anos da primeira linha de carros americanos. Entre os oito, só um faz carreiras regulares.
Os olhos de Pedro, cinco anos, seguiam as mãos da guarda-freio. Carla, vestida a rigor e uma das seis mulheres que guiam eléctricos da STCP, no Porto, não estava para grandes conversas.
A sua atenção estava nos trilhos e na fila de oito eléctricos antigos (mais um atrelado) que a seguia, em mais um desfile anual de carros históricos. Cheios como um ovo, os velhinhos veículos tiraram o pó, ontem, durante cerca de hora e meia, na linha marginal, entre o Museu do Carro Eléctrico e o Passeio Alegre, no Porto.
Pedro foi com a mãe, Cândida Azevedo, também ela fã dos eléctricos e que classifica a partilha de "tal amor como coisa quase genética". E ontem era um dia especial: cumpriam-se 138 anos da primeira linha de carros americanos no Porto, que percorria a Rua Nova da Alfândega até Matosinhos. "Há um americano no museu, o 8. Era puxado por cavalos", informou José Gomes, 74 anos, "muitos passados de rabo sentado no eléctrico" e "uma sabedoria de quem gosta destas coisas".
Dos oito veículos que ontem fizeram o passeio, merecedor de registos fotográficos para dezenas de pessoas, apenas o 18 continua no activo e faz parte das três linhas em circulação. Há ainda a linha T (Porto Tram City Tour), com um circuito mais turístico.
Por cinco e 3,5 euros, adultos e crianças puderam viajar em carros históricos ou réplicas (como é o caso do 100, 104 e 163), numa recriação que quis mostrar como eram os transportes desde os finais do século XIX até aos anos 30. E foi diferente viajar em veículos que não têm janelas (caso do 100), que não ultrapassam os 30 quilómetros por hora, que têm sinetas ruidosas e depósitos com areia para evitar deslizes.
"Deviam fazer isto mais vezes. Têm aqui uma riqueza escondida durante um ano. São relíquias que têm de ser partilhadas todos os dias" - Xavier, galego de Ourense e autor destas palavras, não chegou ontem a tempo de apanhar um dos eléctricos e entrar no desfile. Membro de um grupo que "viaja por amor à cultura", Xavier garante que "é a quarta vez que vem ver os eléctricos do Porto" e que para o ano cá estará. Tal como Pedro que, na despedida da guarda-freio Carla, já dizia que conduzir um eléctrico "é canja".

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