domingo, 11 de março de 2012

O renovado charme do 220

Elétrico 220 (foto ASF)
CE 220, antes de inicar viagem em Massarelos
Por Pedro Cadima (Jornal "A Bola") 
Fiel à sua traça original, o carro elétrico renasce no Porto para entreter as vistas dos seus utilizadores em passeios repletos de encantos, de paixão e total envolvimento com a zona histórica e marginal do Douro. Ciente do acréscimo de importância adquirido com a projeção da cidade no mundo, cada vez mais recomendada em magazines de turismo, a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto está apostada em recuperar o papel do famoso elétrico, absolutamente primordial e imprescindível como meio de transporte por altura das décadas de 30 e 40 do século passado. O lançamento de um totalmente reconstruído nº 220 fez esta sexta-feira as delícias de um conjunto de convidados, convocados a reviver saudosas memórias num desfile airoso e contagiante do veículo desde o Museu do Carro Elétrico até à Rua do Carmo. Belíssimo, enquadrado numa renovada frota especialmente apelativa ao turista ‘Porto Tram City Tour’, trabalhado a madeira e engalanado com recortes vistosos ao longo de dois anos, num custo total de 110 mil euros, o 220 é já o sexto elétrico apresentando como novo e disponível para cumprir as viagens das três linhas, que atualmente vigoram no Porto.A viagem inaugural foi pensada ao pormenor e com o humor e sabedoria popular para recriar tempos idos de agitação popular, frenesim e venda ambulante. A iniciativa contou com a arte nobre e teatral de duas senhoras totalmente inspiradas em personagens da época, vestidas a rigor numa caracterização exímia de trajes e costumes com ânimo e dinamismo para assinalar com superior mérito o arranque do 220, daqui em diante servido ao cliente dos STCP, seja o regular ou o turista. Na chegada aos Leões, junto ao café Piolho, depois de subir toda a Restauração, o veículo fez o seu furor, chamando atenção de alguns turistas, no meio de uma atuação de uma tuna.
A crescer e renascer desde 2007, este transporte registou impactante crescimento de 8 por cento em 2011, empurrão conferido por um consumo de 430 mil passageiros nas linhas da sedutora Invicta. Exaltando o seu brilho peculiar, o 220 e outros demais elétricos recuperados são o orgulho de Fernanda Meneses, administradora da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto, fervorosa portista e antiga dirigente do clube. «Não podemos esquecer que este chegou a ser um transporte único. A reabilitação levou dois anos, desde a carcaça, foi uma reconstrução completa. As linhas estão a crescer bastante na vertente turística, pois possibilitam conhecer a cidade sem stress, e daí a nossa aposta em melhorar a imagem», disse a responsável pela iniciativa, partilhada também 
pela diretora do Museu, Cristina Pimentel, pois em propaganda esteve ainda a renovação da linha de merchandising do espaço museológico, passando pela coleção de bilhetes originais, edições de antigos passes da Companhia de Carris de Ferro do Porto ou porta-chaves com a placa de destino dos veículos.
Recuando e rebobinando história do 220

A reabilitação do 220 surge envolvida numa aposta crescente da Sociedade dos Transportes Coletivos do Porto em oferecer maior conforto e segurança através de carros elétricos reconstruídos na íntegra, sem ferir a sua apreciada originalidade, exemplarmente conjugada com as históricas ruas da cidade. Fazendo um pouco de história, importa referir que este 220 pertencia a uma série de 12 carros elétricos (200-223) que foram construídos e reconstruídos na Companhia de Carris de Ferro do Porto entre 1938 e 1945. O 220 era, então, conhecido como CE 227. Com a municipalização de 1946 passou a CE 200. O advento da Segunda Grande Guerra fez subir meteoricamente o consumo do carro elétrico no Porto, que passou de 32 milhões de passageiros (1940) para 70 milhões (1946). Um estudo da época acabou por resfriar o uso deste transporte, ao chegar-se à conclusão que excedia em 84 por cento o limite ocupacional, aglomerando um total de 85 passageiros. Para exemplificar, o atual 220 está capacitado para 23 lugares sentados.
Por Pedro Cadima (Jornal "A Bola") in A Bola

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