terça-feira, 4 de agosto de 2009

Último eléctrico da Boavista volta à rua

Coche 205, Boavista 05-2000 por Ibertram.
Eléctrico 205 na Av. da Boavista
O 205 foi o derradeiro carro a subir a avenida em Maio de 2000. Esteve parado nove anos na oficina da STCP em Massarelos, onde foi reconstruído e devolvido à cidade.
Ao cair da tarde do Porto, o 205 amarelo vivo venceu, em lenta despreocupação com motores de automóveis a rugirem a seu lado, a distância da Avenida da Boavista, no Porto, pela última vez.
Foi a 29 de Maio de 2000 que o eléctrico, saído do Infante às 19 horas, cumpriu a derradeira viagem com passageiros. E foi nesse momento também que a cidade se despediu dos carros na avenida.
Desde então nunca mais por lá circularam e hoje os carris desapareceram do corredor central diluído na avenida, ora à espera do metro, ora tomado pelos autocarros. O 205 saiu da rua e ficou sem história imóvel nas oficinas. "Este eléctrico era relativamente estreito e estava parado. Quando cheguei às oficinas da STCP [Sociedade de Transportes Colectivos do Porto], o carro já não circulava há nove anos. Todos eles funcionam, mas não estão em condições para andarem na rua", recordou Domingos Sousa, líder da equipa de cinco operários da STCP que ressuscitou o carro 205. Agora, procuram repetir a façanha com o eléctrico 220.
Ao longo de nove meses, o histórico 205 despiu-se até ao esqueleto. Foi completamente desmontado e reconstruído pela equipa nas oficinas de Massarelos da operadora pública. "Toda a vida só se fizeram pequenas reparações nos carros. Nunca se fazia nada de raiz. Recentemente é que se começaram a reconstruir os eléctricos de raiz", destaca Domingos Sousa de 52 anos, 35 passados ao serviço da STCP.
Entrou na empresa em 1974 com arte de electricista, pouco depois da revolução de Abril. Conhece bem as entranhas dos tróleis, dos autocarros e, agora, dos carros eléctricos.
Costumava vê-los a cruzar São Pedro da Cova, em Gondomar, mas estava longe de adivinhar que um dia ia reconstruí-los. "Já reconstruímos quatro. O próximo vai ser o 220", atenta. Mas fazer renascer o eléctrico 205 teve um sabor especial por ter sido o último a circular na Boavista. "Deu-me um certo gozo. As pessoas estão ansiosas em vê-lo na rua. Vêm cá perguntar quando é que ele começa a circular. Há um interesse enorme", confidencia.
A operação delicada, que custou 88,5 mil euros, ficou concluída este mês. O 205 trocou o amarelo vivo pelo castanho claro. "Sem mudar a traça do carro, procurámos introduzir materiais mais fiáveis e com maior durabilidade. Todo o trabalho de madeira foi reproduzido, mantendo as medidas e as linhas originais", continua Domingos, frente- a-frente com o carro recriado e pronto para a devolução às ruas do Porto.
E por lá anda, pelo empedrado da cidade ao serviço das actuais linhas históricas operadas pela STCP (as linhas 1, 18 e 22), cruzando a partir da Praça do Infante a marginal ribeirinha, a Restauração e a Cordoaria.

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